Rio: desejo de uma cidade

Rio: desejo de uma cidade (1904-2024) celebra os 120 anos de nascimento de nosso patrono Roberto Marinho e antecipa as comemorações dos 460 anos de fundação da cidade em 2025.

Raros homens amaram, produziram e promoveram com tal intensidade sua terra natal. Como jornalista e empresário seus veículos produziram um vocabulário visual que exprime o século XX carioca. Sua contribuição perenizada por meio das novas gerações nas empresas de comunicação e, numa escala íntima, no compartilhamento de sua coleção de arte e na transformação da sua residência em espaço público do carioca.

Esta exposição - curada por Marcia Mello, Victor Burton e eu – reúne fotografias, pinturas, desenhos, gravuras e esculturas que, nesses 120 anos, tiveram o Rio de Janeiro como tema ou principal inspiração. Dela emerge uma cidade dinâmica e vital que se nutre das suas qualidades e, não raro, de suas vicissitudes.

A resiliência criativa sempre foi, desde o início, uma característica nossa. Parecia inviável implantar um aglomerado humano num terreno insalubre, ainda que deslumbrante. Seguidos esforços de engenharia permitiram inventar um núcleo urbano ao incorporar, valorizar e, nada é perfeito, ferir a natureza bela. Como dizia Paulo Mendes da Rocha: “O Rio é uma teimosia tornada possível pela mecânica dos fluxos".

Durante alguns séculos a então capital procurou seu estilo de metrópole tropical buscando emular Lisboa ou Paris. E, finalmente, abrindo mão desses enganosos desejos civilizatórios escolheu a dor e a delícia de ser, simplesmente, o Rio de Janeiro.

Depois de se tomar pelo todo, enunciar o país enquanto falava-se do Rio de Janeiro, estamos fadados a olhar o que restou de único: a inesgotável capacidade carioca de produzir imagens e inventar memórias de si mesmo e de seu papel para o Brasil.

Uma cidade que se experimenta reforçando uma identidade própria, com suas qualidades e agruras, sem jamais querer parecer outra.

O urbano se une aqui entremeando topografias e comunidades contrastantes. A recusa de se deixar partida a faz escavar túneis para obter uma síntese que põe em contacto a orla arejada com o avesso das montanhas sem brisa.

Quando quase nada parece restar, nos refugiamos na produção das imagens e sons que ecoam o desejo da beleza que se nutre, também, das desigualdades produzidas pela tragédia perene da desigualdade preconceituosa.

Uma vez Roberto Marinho recebeu uma figura pública, da qual tinha significativas discordâncias, em seu escritório panorâmico no topo do prédio do Jardim Botânico. Não se sabe, ao certo, o que foi conversado. Ficou do encontro apenas o comentário, entre surpreso e tristonho, do jornalista: “Ele não olhou uma vez sequer a paisagem”… Mais carioca, impossível.

Lauro Cavalcanti
Diretor da Casa Roberto Marinho
Maio de 2024

Alguns artistas em exposição

Marcos Chaves
Buda, 1999
C-print, 135 x 200 cm
Coleção do artista

Joelington Rios
Aqualtune, da série O que sustenta do Rio, 2018
Impressão a jato de tinta, 90 x 80 cm
Coleção do artista

Vincent Rosenblatt
Ezequias - Funk Body #051- Yolo Love Party - Fundição Progresso, Lapa, 2018
Impressão a jato de tinta, 100 x 66 cm
Coleção do artista

Luiz Baltar
Instantes Cruzados, 2017
Coleção do artista

Rogério Reis
Da série Ninguém é de Ninguém, 2014
Impressão a jato de tinta, 155 x 107 cm
Acervo do artista

Gais Ama
Casas de subúrbio, 2017
Acrílica sobre tela, 110,3 x 100,3 cm
Coleção Roberto Marinho, Instituto Casa Roberto Marinho

Leonardo Aversa
Carnaval #02, 2018
Impressão a jato de tinta, 60 x 60 cm
Coleção do artista

Carlos Vergara
Poder, 1972
Impressão a jato de tinta, 100 x 150 cm
Coleção do artista

Victor Arruda
As gêmeas, 2013/2024
Acrílica sobre tela, 70 x 100 cm
Coleção do artista

Marcos Bonisson
Balada de um corpo solar, 1998
Impressão a jato de tinta, 80 x 80 cm
Coleção do artista

Milan Alram
Rua Uruguaiana esquina com Rua do Ouvidor, 1957
Plotagem digital, 100 x 150 cm
Coleção da família

Mauricio Valladares
Brasil Central, Carnaval, 1980
Impressão a jato de tinta, 100 x 70 cm
Coleção do artista

José Roberto Bassul
Sem título da série Linhas de Sombra 1 e 2, 2019
Impressão a jato de tinta, 75 x 50 cm
Coleção do artista

Jean Manzon
Sem título, 1951
Acervo Jean Manzon

Ratão Diniz
Nova Maré, 2013
Impressão a jato de tinta, 50 x 75 cm
Coleção do artista

Anna Kahn
Sem título, 2010
Impressão a jato de tinta, 80 x 100 cm
Coleção da artista

Monara Barreto
Luzes do Alemão, 2011
Impressão a jato de tinta, 50 x 75 cm
Coleção da artista

Thiago Facina
Escadas 10, 2014
Impressão a jato de tinta, 59,4 x 42 cm
Coleção do artista

Claudia Jaguaribe
Vidigal e Rocinha da série Entre Morros, 2014
Metacrilato, 110 x 259 cm
Coleção da artista

Andre Cypriano
Membros do Surfavela, 1999
Impressão a jato de tinta, 90 x 120 cm
Coleção do artista

Cesar Barreto
Vista da Igreja da Penha, 2011
Coleção do artista

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Curadoria: Cristina Canale

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